domingo, 10 de abril de 2011

Síndroma da deficiência postural

Por exemplo, podemos passar entre uma porta sem lhe tocar, subir e descer escadas sem pensar na posição dos pés, ver a que distâncias estão objectos, apanharmos uma bola no ar, desviarmo-nos de um obstáculo, etc.  
Quando este sistema se lesiona devido à sobrecarga de agressões posturais constantes, estas como não conseguem ser compensadas, falham e permitem que o corpo receba informações erradas que baralham a percepção que o cérebro tem sobre a posição das diferentes partes do corpo. As consequências desta falha do sistema são inúmeras, e nela manifestam-se as perturbações de aprendizagem.
Um dos médicos mais especializados mundialmente nesta patologia é o Doutor Orlando Alves da Silva, oftalmologista, que tem divulgado os trabalhos do médico fisiatra Martins da Cunha e contribuído muito em estudos, tratamentos e divulgação do SDP.
         A disfunção do Sistema Proprioceptivo é a causa dos múltiplos sintomas que caracterizam o SDP.
Alguns dos factores que hoje se conhecem como contribuidores nas dificuldades de aprendizagem em crianças são descritos pelo Doutor O. Alves da Silva como quadro clínico da SPD, eles são:

  • Défice de convergência tónica – A criança sente fadiga ocular e interrompe a leitura;
  •  Escotomas – A criança quando lê pode saltar palavras, por exemplo na palavra guarda-chuva, pode ler apenas guarda ou chuva, convencida que leu a palavra toda.
  •   Memória – A criança num dia sabe a matéria estudada, no dia seguinte falha as respostas no teste.
  •    Concentração – A criança está sempre distraída.
  • Interpretação – Quando interpreta um texto a criança só memoriza a última parte.
  • Hiperactividade – A criança pode manifestar dois tipos de comportamento ou muito calmos para ninguém dar conta dos seus erros ou muito irrequietas e indisciplinadas.
  •   Erros de localização espacial – A criança tem dificuldade em organizar os cadernos, a letra é irregular, quando lê salta linhas do texto sem dar conta, dá mais erros na cópia que no ditado, é desastrada e cai com frequência.
  •   Perda de Autoestima – Por serem crianças inteligentes que procuram dar o seu melhor, apercebem-se da sua incapacidade e sentem-se injustiçadas por as rotularem de cabeças no ar, preguiçosas e desastradas.
  •  Perturbações de processamento do texto – A criança pode manifestar um quadro de Dislexia clássica, troca as letras e a localização na palavra é percebida erradamente.
  •   Percepção auditiva – A criança pode ter dificuldade em perceber em tempo real o que lhe foi transmitido, outras vezes a criança ouve mas não consegue descodificar o que ouve.
Quando nos expomos a posturas incorrectas, como referido anteriormente, estas podem lesionar o sistema proprioceptivo, e assim desenvolver a SDP.
Este Sistema Proprioceptivo está sempre presente no nosso corpo e contribui para o nosso equilíbrio e deslocamento.
O SDP pode manifestar-se em crianças, jovens ou adultos, mas é nas crianças que podemos detectar mais precocemente se não ignorarmos os sinais e sintomas.
Os erros posturais a que somos sujeitos desde crianças, passam pelas coisas mais simples, o colchão da cama que é demasiado mole e o corpo fica numa posição de deformação, as horas que passamos a ver televisão sentados num sofá onde ficamos em posições assimétricas com alterações graves para a nossa coluna vertebral, as mochilas desajustadas e com peso excessivo, o calçado que levanta à frente o pé permitindo um apoio errado ao solo, o mobiliário escolar desajustado entre outros.
A partir dos 3 anos de idade já é possível verificar se a criança tem perturbações do Sistema Proprioceptivo, e proceder à sua correcção.
O conjunto de sinais e sintomas do quadro clínico do SDP é comum a muitas patologias pelo que o diagnóstico diferencial não é fácil.
Exige um profundo conhecimento do quadro clínico e do paradigma que o sustenta: a propriocepção.
O SDP é de origem funcional logo não pode existir uma lesão orgânica.
Alguns dos principais sintomas descritos por Alves da Silva para o SDP são:

·         - Desequilíbrio;
·         - Patologia muscular dolorosa;
·         - Perturbações de localização espacial;
·         - Perturbações dos movimentos oculares;
·         - Alterações da percepção sensorial;
·         - Dislexia e perturbações de aprendizagem;

Em crianças os pais e educadores/professores devem estar particularmente atentos a alguns sinais, como: A criança que cai com frequência sem razão aparente, anda e corre com os pés tipo 10 para as 2, utiliza uma linguagem “abebezada” até aos 4/5 anos, mostra dificuldades em descodificar os sons, morde a bochecha internamente sem querer, deixa cair objectos e tem dificuldade em organizá-los no seu espaço, não consegue estar quieta, gasta os sapatos na parte de trás e para fora, quando frequenta o 1º ciclo pode demonstrar dificuldades em copiar, trocar letras, escrever em espelho, ler e escrever “deitada” por cima da mesa, ficar cansada rapidamente ao executar estas tarefas, e ter dificuldade no esquema corporal. Alguns destes sinais e sintomas podem revelar que a criança sofre de perturbações do Sistema Proprioceptivo e pode desenvolver Sindroma de Deficiência Postural.

É recomendado que perante um conjunto de sinais e sintomas descritos no quadro clínico do SDP, haja uma orientação dos pais e da criança para o seu acompanhamento em equipa multidisciplinar de saúde, na realização de testes específicos e exames de diagnóstico, que confirmem o SDP.
Médico pediatra e/ou de família, oftalmologista especializado em posturologia, dentista, psicólogo, fisioterapeuta, osteopata, terapeuta da fala, e técnico de educação especial e reabilitação deverão fazer parte integrante nessa equipa de intervenção.
Nas crianças a principal consequência são as dificuldades de aprendizagem e com tudo o que isso acarreta podendo tornar a vida destas muito difícil, exigindo-se mais do que elas podem dar. E também alterações do foro neuro-musculo-esquelético, por exemplo surgimento de escolioses e contracturas musculares.
Existem tratamentos adequados quando as dificuldades de aprendizagem são devidas a disfunções do sistema proprioceptivo.
O tratamento do SDP, consiste em colocar o Sistema Proprioceptivo a captar correctamente e de forma funcional os estímulos provenientes do meio ambiente. Para tal é necessário trabalhar na origem, ou seja, nas entradas proprioceptivas. As principais são: os pés, os músculos, as articulações têmporo-mandibulares (ATM), o Sistema Visual e o Sistema Vestibular.
Os tratamentos compõem-se em três intervenções/técnicas principais:
·         - Lentes prismáticas posturais
Que são óculos normais com lentes diferentes das que estamos habituados a ver na população em geral. São lentes prismáticas utilizadas para a correcção postural que diferem das lentes usadas para corrigir desvios oculares. As lentes prismáticas são activas e produzem um relaxamento nos músculos oculomotores, e desta forma esse relaxamento transmite-se a todos os músculos do corpo a eles associados podendo, se for este o caso, eliminar os sintomas de postura incorrecta.
·         - Reprogramação postural
Aqui são utilizadas técnicas que informam o doente sobre a postura correcta que deve utilizar no dia-a-dia em todos os segmentos corporais, como o treino respiratório, treino de relaxamento, a correcção postural e o uso de palmilhas posturais nos sapatos.
·         - Técnicas psicopedagógicas
Enquanto o Sistema Proprioceptivo se encontrava em disfunção as informações que chegavam ao cérebro eram mal percepcionadas e muitas vezes aprendidas incorrectamente. Com a colocação das lentes prismáticas e a reprogramação postural há que eliminar os erros que ficaram registados e aprender a receber as novas informações vindas do exterior. É também fundamental trabalhar a baixa auto-estima uma vez que os estragos provocados pelo SDP nesta área desenvolveram-se em crianças e adultos ao longo das suas vidas por desconhecimento da patologia com que se encontravam.
A correcção destes aspectos tratam o Síndrome de Deficiência Postural e a sintomatologia existente melhora e, em alguns casos, desaparece.
É possível prevenir. Alguns dos conselhos de prevenção do SDP passam por pequenos gestos:
·         - As mochilas usadas pelas crianças não devem ser demasiado grandes nem ter demasiado peso (não deve ultrapassar 10% do seu peso corporal), devem ser usadas com as duas alças e ter cintos à frente no peito e cintura para uma melhor distribuição do peso;
·         - O calçado deve permitir que o dedo grande se dirija para a frente e fique totalmente apoiado. O calçado que arrebite à frente não deve ser utilizado;
·         - O vestuário não deve ser muito apertado na cintura. Deve ter a mesma altura atrás e à frente;
·         - O colchão da cama deve ser duro, sendo apenas flexível para não magoar o corpo;
·         - O mobiliário: a cadeira deve permitir que os pés assentem bem no chão, se necessário deve colocar-se um apoio debaixo dos pés que fique paralelo e nunca oblíquo ao chão.
O sofá não deveria ser tão utilizado, e quando necessário deve sentar-se mais na borda e não se encostar para trás.
A mesa deve ser inclinada de forma a permitir a leitura com o livro inclinado a 30º;
·         - Aos educadores/professores e às suas escolas, quando escolherem um novo mobiliário para as suas salas de aula, devem escolher mobília que possa ser ajustada a cada criança, que tenha plano inclinado e apoio para os pés;
·         - Promover bons hábitos posturais nas salas de aula, atribuindo-se uma nota para a boa postura;
·         - As escolas devem organizar acções de formação para sensibilizar educadores/professores, pais e crianças no combate às agressões posturais a que se sujeitam diariamente.
Os pais devem procurar ajuda clínica, em centros especializados com equipas de saúde multidisciplinares capazes de dar resposta para estes problemas. A colaboração dos pais e/ou das pessoas que convivam com crianças com SDP é essencial no seu tratamento.
Educadores/professores devem colaborar o mais possível com a equipa clínica, e recolher o máximo de informação acerca de como ajudar a criança em causa. Cada criança é única e merece todo o apoio educativo para o seu desenvolvimento futuro.
O insucesso escolar não pára de aumentar, e em alguns casos os alunos são apelidados de preguiçosos, distraídos e cabeças no ar esperamos contribuir como muitos outros profissionais de saúde têm feito para a divulgação do Sindroma de Deficiência Postural, e abrir novos horizontes na sua abordagem e tratamento.

Teresa Garcia Escudeiro
(Fisioterapeuta e Osteopata)
Artigo publicado na revista "Coisas de Criança" - O Guia para Pais e Educadores (nº 23 de Outubro de 2009 com edição da Tuttirév)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Conferência

Realizou-se hoje, na BECRE, na sede do Agrupamento a anunciada conferência pelo reputado especialista e percursos internacional de Posturologia Clinica e Dislexia, dr. Alves da Silva, que prendeu a atenção da plateia durante 3 horas.
O sexto sentido, como é  designada a Propriocepção, é, nas suas palavras, responsável por  muitos dos processos que atribuímos apenas aos outros bem conhecidos 5 sentidos.
mas daremos conta das suas concepções em próximos capítulos.
Foi uma tarde diferente, por tudo, até pelo tema, que abordou as dificuldades de aprendizagem de uma vertente nova: as posturas e a responsabilidade do mobiliário escolar e não só, também o de casa.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sábado...

É já este sábado que vamos receber o reputado especialista em Posturologia e Dislexia, Dr. Orlando Alves da Silva.
As inscrições ultrapassaram o número quarenta. Ficaremos, com toda a certeza, mais (in)formados.
O nosso objectivo, que  é a procura da comprovação de que o mobiliário das nossas escolas é um factor de insucesso dos alunos, nada menosprezável e digno de levantar questões pertinentes, como a política de equipamento das salas de aula.
Além do ilustre conferencista teremos patente uma pequena exposição com testemunhos recolhidos nas escolas e na literatura científica.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

As Posturas

Levantem-se as carteiras!
Médico português defende uma nova abordagem científica à
dislexia de evolução, que apresenta as dificuldades de leitura
como consequência de maus hábitos posturais. E faz a apologia
das carteiras escolares substituídas após a ditadura
Nelson Morais
A seguir ao 25 de Abril de 74, as antigas carteiras de tampo
inclinado foram saneadas das escolas, porque a revolução
pedagógica que acompanhou a política aconselhava a utilização
de mesas de plano horizontal, para facilitar o trabalhos de grupo.
Agora, a Associação para a Promoção e Desenvolvimento da
Educação (APDE) procura reabilitar o modelo anterior. Ao
anunciar, recentemente, um colóquio sobre a dislexia de evolução,
que estima afectar cerca de 10% das crianças portuguesas,
colocava o assunto nestes termos: «Parabéns, está a ler o nosso
jornal. Agora perguntamos-lhe: quando está sentado, como é que
o lê melhor? Em plano inclinado, ou colocado sobre uma mesa?
Não temos dúvidas de que a sua resposta será: ‘Em plano
inclinado, é claro’!!!».
A APDE sustenta que as crianças, ao passarem cinco a seis horas
diárias debruçadas sobre as actuais secretárias e sem um apoio
próprio para os pés, incorrem em erros de postura que propiciam
o aparecimento e o agravamento da dislexia. Subscreve, assim, a
inovadora abordagem científica do oftalmologista Orlando Alves
da Silva, chefe de serviço do Hospital de Santa Maria, que
apresenta as dificuldades de leitura resultantes da dislexia como
apenas «um dos sintomas do Síndrome de Deficiência Postural
[SDP]».
CONFERÊNCIA








“Perturbações da Aprendizagem Geradas na Própria Escola.
Como solucionar.”





Orador: 
Dr Orlando Alves da Silva –
Médico oftalmologista, chefe de serviço
Presidente da Sociedade Portuguesa de Posturologia Clínica e Dislexia
Pioneiro Internacional na área da Propriocepção e Posturologia – conferencista e formador internacional
Director Clínico da Empresa Posturmed
Local: Agrupamento de Escolas Serra da Gardunha
Data: 26 de Fevereiro 2011, sábado
Hora: 15h
Inscrições até 22 de Fevereiro na Escola Sede